Pois cada vez que fazem alguma entrevista relacionada com a humanização do parto pensamos sempre pelo lado bom. Vendo pelo lado bom as pessoas sabem que a opção existe, que os casos tiveram êxito, acabam se conscientizando que se tiver a assistência adequada (e não necessariamente médica, uma enfermeira obstetra ou obstetriz + pediatra por exemplo) e sendo uma gestação bem cuidada no pré-natal e de baixo risco é totalmente possível, viável e recomendável ter o bebê em casa.
Mas saiu uma matéria na Folha de Londrina que é impossível eu ficar quieta…
Não, não estou aqui para brigar. Estou aqui para argumentar. E vou fazer isso no maior estilo Madrasta do Texto Ruim, minha musa inspiradora!
Em roxinho quem fala sou eu, tá?
Perigo ou conforto?
Enquanto cresce o interesse pelo parto domiciliar, médicos alertam sobre os riscos.
Tá, sério mesmo que vocês estão comparando desta maneira? Já começou mal… Parto domiciliar não é uma questão apenas de conforto e se for bem planejado e assistido não há perigo nisso! Perigo foi demais. Alertar sobre os riscos das cesáreas ninguém quer também né?
Para ter Surya em casa, Fernanda Rocha fez todo o pré-natal corretamente e não apresentava nenhum problema que inviabilizasse o procedimento.
Ter o bebê no aconchego do lar, acompanhada do marido e familiares parece cena de filme antigo, mas é uma opção adotada por muitas mamães modernas. Obstetras e pediatras, no entanto, têm ressalvas quanto ao procedimento. Nem todo obstetra e nem todo pediatra. Procedimento? Assistência ao parto seria o mais adequado. Eles não querem dar assistência ao parto domiciliar, certo? Mas tudo bem, vamos continuar.
A empresária Fernanda Alves de Sousa Rocha já tinha visto um programa sobre parto natural há alguns anos e quando ficou grávida da pequena Surya, hoje com pouco mais de 7 meses, voltou a pensar no assunto. ”Tenho também uma amiga que participa do grupo Gesta, de Londrina e ela me deu informações, mas só comecei a pensar em ter meu bebê em casa aos oito meses de gestação.” Já era um desejo dela ter a opção de escolha de ter a bebê em casa, isso há anos. Agora ela queria colocar isto em prática.
Ela conta que teve que mudar de obstetra, já que o primeiro se opunha ao parto domiciliar. O segundo profissional a apoiou e orientou sobre o que deveria ser feito para que o parto ocorresse em casa. ”O parto é familiar é amor puro. Obstetra este que não participa da reportagem (nem a pediatra). Mais abaixo na matéria podemos ver claramente o motivo. Participaram apenas meu marido, meus pais e minha sogra, além da doula, do obstetra e da pediatra. Acredito que a cabeça manda no corpo e por isso não tive medo.” A cabeça manda no corpo, gostei! Quer dizer que foi uma decisão RACIONAL. Foi pesquisado, pensado.
Para ter Surya em casa, Fernanda fez todo o pré-natal corretamente e não apresentava nenhum problema que inviabilizasse o procedimento. ”Ela estava posicionada corretamente, não tinha o cordão enrolado no pescoço.” Parto de baixo risco. Ok.
Ela conta que nem todos receberam a notícia com tranquilidade. Sua mãe, que passou por um parto complicado justamente no nascimento de Fernanda, se assustou com a escolha da filha. ”Eu nasci com o cordão enrolado no pescoço, foi bem complicado. Depois que expliquei como tudo aconteceria ela acabou aceitando. Já meu pai recebeu melhor a notícia.” Eu não sei ao certo como foi o nascimento da Fernanda, mas cordão enrolado no pescoço é algo comum e não inviabiliza parto. Mesmo que muitos obstetras deem esta desculpa ou outras como o cordão estava PERTO do pescoço.
No dia do parto a única solicitação do obstetra foi que ela fosse ao hospital fazer um exame para avaliar os batimentos cardíacos do bebê. ”Eu fui e voltei correndo para que ela nascesse em casa. O obstetra trouxe material para primeiros socorros e sutura, anestesia e aparelhos para medir batimentos cardíacos. A pediatra que acompanhou o parto também trouxe balão de oxigênio e sondas.” Ou seja, nada igual ao parto de antigamente onde não se tinha nenhum recurso!
Fernanda conta que o trabalho de parto começou na manhã do dia 31 de julho e durou 10 horas. ”Meu marido cortou o cordão umbilical. Ela mamou logo após o parto, foi tudo muito tranquilo.” Foi tranquilo? Que milagre!!! Porque poderia tanta coisa ter dado errado que num hospital não daria né? Oh wait… no hospital também dá muita coisa errado não é mesmo? Como infecções hospitalares, intervenções desnecessárias, e cesarianas desnecessárias por pressão do médico E da família. Sem falar da violência obstétrica e algumas humilhações por parte da equipe que muitas mulheres passam.
O estilo de vida da família contou bastante na decisão da empresária. Ela e o esposo já levavam uma vida natural, são vegetarianos, prezam alimentação saudável, gostam de acampar e ter vida ao ar livre e raramente recorrem aos medicamentos alopáticos, priorizando a medicina chinesa. ”Minha gestação foi tranquila, isso possibilitou fazer o procedimento. Cada caso é um caso e o apoio familiar é muito importante.” Aqui parece, só parece, que parto domiciliar é coisa de “bicho-grilo” hippie ou coisa parecida. Sinto muito informar mas muita gente “urbana” que se entope de Mc Donalds e toma Coca-Cola (e usa calça apertada rs) tem optado por ter seus filhos em casa, e olha só… tem conseguido!!!
Atendimento domiciliar em três cidades
Patrícia Merlin, doula e educadora perinatal em Maringá (Noroeste), já acompanhou alguns partos domiciliares. Ela mesma teve dois de seus três filhos em casa e acredita que isso faz toda a diferença na hora de dar à luz. Patrícia é coordenadora do Gesta 🙂 O blog dela é o A Bolsa da Doula. Não só acredita como tem certeza! O primeiro foi cesárea e as outras duas parto domiciliar.
”O parto domiciliar ainda não é frequente. Tem muita mulher que quer, depois percebe que não é tão simples e desiste no meio do caminho. No Paraná temos atendimento domiciliar em Cascavel, Curitiba e Maringá. Nesses locais já se conta com uma equipe.Equipe! Não é nada feito por acaso! Em Londrina tivemos duas experiências, mas é difícil achar quem atenda em casa”, reconhece. Entenderam? Não é todo mundo que pode nem todo mundo que quer, mas quem quer deveria ter no mínimo a vontade respeitada e uma assistência digna!
Para a doula, a intimidade e o conforto que a mulher tem em casa são fundamentais para seu estado emocional na hora do parto. ”Ela pode ficar do jeito que quiser, no local que quiser. No hospital ela fica restrita ao quarto, que em geral é pequeno.” No hospital vai ter sempre alguém pra ficar entrando no seu quarto e tirando a sua concentração e privacidade. Pra perguntar se já está doendo com aquela cara de: por que não vai logo para a cesárea e desocupa o quarto? Sempre vai ter alguém acendendo a luz, entrando sem bater à porta, e finalmente desencorajando e te chamando de corajosa (na verdade querendo dizer louca) por ter escolhido um parto natural. Experiência própria e de muitas outras mulheres, sim, aqui em Londrina.
Patrícia afirma que é necessário também haver uma assistência médica para que a mulher se sinta segura. ”A doula não é uma parteira. Ela dá apoio para a mãe e para o marido, é alguém que vai apoiar a família durante o processo, mas qualquer intervenção, mesmo simplesmente medir a temperatura, deve ser feita por uma enfermeira ou um médico.” Mais uma vez, assistência digna.
Nos seus quase 10 anos como doula, ela nunca presenciou intercorrências graves nos partos domiciliares. ”Já tivemos uma mãe com um trabalho de parto prolongado e também uma outra que acabou pedindo para ir para o hospital para fazer a analgesia, mas não porque houvesse um problema.” Estava tudo bem, uma demorou um pouco mais e a outra foi pro hospital por vontade própria (que foi respeitada, o que não aconteceria num hospital por exemplo se a mulher quisesse ficar em pé e MANDAM ela ficar deitada…).
A profissional ressalta que no parto domiciliar, embora seja permitido a presença de quem a gestante quiser, é melhor que seja restrito apenas ao marido, equipe de apoio e filhos. ”Já tivemos uma situação em que a mãe da gestante interferiu tanto que a mulher desistiu e acabou fazendo uma cesárea”, conta. Concordo plenamente! O parto é da mulher! A vontade dela deve ser respeitada. Nenhuma que eu conheço iria contra uma intervenção necessária. Só queremos um pouco de respeito nas nossas decisões. Na realidade precisamos de apoio também, mas se você não pode dar o apoio fique longe!
Mesmo com a equipe levando vários aparelhos e suportes que mãe e bebê teriam no hospital, a parturiente também precisa estar ciente dos riscos e pronta para assumir a responsabilidade sobre o que vier a acontecer no parto. ”Mulheres com gestação de risco não podem fazer parto domiciliar, nem mesmo quem teve alteração de pressão durante a gravidez.” O atendimento domiciliar tem um custo, que leva em conta o número de profissionais, a experiência da equipe e também o município. Segundo ela, o valor varia entre R$ 1 mil e R$ 10 mil. (E.G) Mais uma vez… não é para todas as mulheres! Isso acho que ficou muito claro, não é?
‘O melhor local é no hospital’
O ginecologista e obstetra Antônio Caetano de Paula, presidente da Associação Médica de Londrina, acredita que fazer um parto em casa seria o mesmo que ir a São Paulo a cavalo. ”Só se justifica se for tão rápido que não dê tempo de chegar ao hospital. As pessoas encaram o parto como uma festividade e não como um procedimento médico”, observa. Desculpa Dr.. O parto é sim uma festividade. E não é um procedimento médico. Assistência ao parto sim, é um procedimento médico ou da enfermeira obstetra/obstetriz. Mas eu acho que o senhor nunca pariu nenhum dos bebês das suas pacientes, não é mesmo? Parir é um ato da mulher! O senhor só conseguiu deixar claro como encara o parto das suas pacientes. Como uma doença como outra qualquer que o médico está ali para curar. Não, o parto não é isso! E se eu quiser ir para São Paulo a cavalo? Se eu tiver condições físicas para isso e quiser aproveitar a paisagem, não posso? E se para me ajudar no caminho eu usar um GPS? Qual o problema em se usar a tecnologia a favor do conforto da mãe na hora do parto?
Eu rezaria mesmo para que meu parto fosse bem rápido se eu estivesse com um médico que pensa assim. Pelo menos não daria tempo de se fazer a maioria das intervenções “padrão” de um parto hospitalar.
De acordo com o obstetra, os problemas podem ocorrer com qualquer pessoa, mesmo com aquelas mulheres que fizeram o pré-natal corretamente. ”Em alguns casos não há tempo de chamar uma ambulância. O parto é um momento de alegria mas há riscos”, resume. O mesmo acontece com as cesáreas desnecessárias. Que aliás apresentam riscos maiores e isso não é impedimento para que elas continuem sendo feitas sem ao menos se informar a paciente sobre isso. Pelo menos quem escolhe fazer um parto domiciliar está muito bem informado sobre todos os riscos e complicações que possam acontecer. Aliás toda gestante deveria estar muito bem informada que toda gestação tem seu risco.
Mesmo o parto realizado em casa sendo uma ocorrência comum antigamente, Caetano acredita que os tempos eram outros, Os tempos eram outros, não existiam recursos para atender uma emergência em casa. assim como o corpo e comportamento femininos. ”As mulheres não ficavam sentadas o dia todo, realizavam mais atividades físicas e não usavam roupas apertadas. Para tudo!!! A culpa é da LYCRA!!! E espartilho, não se usava??? Cadê evidência científica que o pseudo sedentarismo e as roupas apertadas dificultam um parto natural? Se fosse assim eu teria tido os três de cesárea minha gente! Não se justifica colocar mãe e filho em risco sendo que nos hospitais se pode fazer um parto humanizado.” Mas Dr., se ela tem uma assistência competente, que risco seria este? Quem sabe o risco de ter que acompanhar o parto por horas, ou não conseguir fazer uma cesárea sem indicação realmente necessária? Alias, quantos partos humanizados o Dr. em questão já acompanhou? Não estou falando de parto sem anestesia apenas. E as cesáreas sem agendadas não colocam a mãe e o bebê em risco? Por que elas são justificáveis?
A opinião é compartilhada pelo pediatra Milton Macedo de Jesus, que destaca que os três primeiros minutos de vida são fundamentais para a criança. ”Se alguém pudesse garantir que a criança fosse nascer bem, ela poderia nascer em casa, mas se não nascer bem, ai é o problema”, destaca. ”Nesse momento tem que ter um profissional junto, não dá tempo de esperar porque isso pode significar sequelas graves e permanentes”, acrescenta. Quer dizer que não há nada no mundo que garanta que um bebê vai nascer bem? A OMS deve estar muito desatualizada… e além disso então podemos dizer que uma cesárea também não é garantia que o bebê vai nascer bem? Hum… Sem contar os lugares onde não existem médicos, vamos fazer o quê? Proibir as mulheres de engravidar?
O pediatra acredita que a escolha pelo parto domiciliar vem de países mais desenvolvidos, mas que a saúde no Brasil não permite que a prática seja comum por aqui. ”São países em que há uma retaguarda e um transporte de urgência imediato. O melhor local para uma criança nascer, no Brasil, é no hospital.” Ué… mas o outro falou que era um retrocesso, o senhor diz que é só em países desenvolvidos? Afinal, qual é o problema das mulheres brasileiras principalmente da rede particular que não estão mais conseguindo parir seus filhos? O físico delas não é mais ou menos desenvolvido, o que será que não desenvolveu o suficiente para que tenhamos o direito de escolher onde e como parir?
Macedo ressalta que não é a mesma coisa estar em casa com equipamentos do que estar no hospital, já que nem todos podem ser levados para a casa da parturiente. ”Não tem como fazer todos os atendimentos em casa. A mãe deve estar ciente de todos os riscos e decidir junto com os profissionais. Mesmo um pré-natal sem problemas não é garantia de que tudo vai dar certo. É algo para uma clientela diferenciada, restrito a poucas pessoas”, ressalta. (E.G) Quer dizer que a garantia que vai dar tudo certo está em você ter o bebê em um hospital? Sério mesmo? Olha que todos os médicos que conheço dizem que o pré-natal bem feito sempre foi um bom indicativo que está tudo bem com a mãe e com o bebê, e estando tudo bem é muito difícil algo dar errado. E se der errado, daria em casa ou no hospital. Parece você coloca seus pés para dentro do hospital e seus problemas acabaram!
Fica bem claro o que vem acontecendo nos últimos anos. Tiraram o parto das mulheres. A decisão não é mais delas. É de todo mundo (marido, mãe, pai, sogra, irmã, cunhado, tia vó, papagaio, periquito) que querem saber muito mais o que ela deve fazer que ela mesma. Além de terem a experiência de parto roubada ainda são expostas a riscos desnecessários (caso das cesarianas sem indicação clínica real) e querem desmoralizar quem se informa e vai atrás de tomar de volta o parto para si. Muitas mulheres acham cômoda essa posição de não se responsabilizar por nada do que acontece com seu corpo e com seu bebê. Infelizmente é assim. Cedem à pressão externa mesmo sem perceber, pensando que a convicção de escolher o mais arriscado era totalmente dela.
Eu conversei por vários minutos com a repórter sobre o assunto quando ela me ligou pedindo os contatos para as entrevistas. A Patrícia Merlin também conversou com ela vários aspectos que não só o conforto sobre o parto domiciliar. Mas os médicos entrevistados são contra (e deu para perceber que não se basearam em nenhuma evidência científica) e logicamente aproveitaram a deixa para falar que ter o filho em casa é uma loucura mesmo estando tudo bem. E com os médicos falando isso eu entendo perfeitamente que não teria como a reportagem escrever outra coisa.
Infelizmente aqui em Londrina os médicos são desencorajados a acompanharem partos domiciliares e não contamos com uma equipe de enfermeiras obstetras (ainda) que seriam os profissionais ideais para atender um parto em casa.
Mas pelo menos foi falado sobre o assunto.
Otimismo, trabalhamos.
BjoS!!!
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